Começar a empreender foi a forma que Mirela Goi, de 39 anos, encontrou para lidar com as decepções que havia sofrido no mercado de trabalho.
Em 2006, a empreendedora começou a trabalhar no departamento de marketing de uma empresa pela qual já havia passado alguns anos antes. Uma mudança repentina na estrutura da equipe fez Mirela ficar subordinada a um gerente que não sabia lidar com a deficiência dela.
Mirela teve poliomielite aos quatro anos. A doença, conhecida como paralisia infantil, afetou as pernas da empreendedora e por isso ela não consegue andar. O gestor a criticava em vários aspectos.
“Ele dizia que uma pessoa com deficiência não era adequada para o departamento de marketing e que não era bom ter alguém de cadeira de rodas participando de eventos corporativos”, diz. “O foco era sempre a minha deficiência, com questionamentos sobre a minha capacidade.”

A empreendedora procurou ajuda dentro da empresa, mas não a encontrou - em vez disso, acabou sendo demitida. Ela entrou com um processo contra a corporação e o juiz lhe deu a reintegração do cargo, alegando que sua demissão foi injusta.
Mirela voltou para o emprego, mas a situação acabou piorando: além de não ter estruturas adequadas para ter um funcionário com deficiência física, a empresa deixou a empreendedora isolada do restante dos colegas de trabalho.
Mirela tomou uma decisão: deixou de trabalhar no local por escolha própria e abriu outro processo contra a empresa, dessa vez por danos morais. Apesar de ter ganhado, toda essa situação - que durou cerca de dois anos - deixou a empreendedora desanimada com o mercado de trabalho:
“Ainda há muitas limitações para as pessoas com deficiência no mercado de trabalho, quase não há chances de crescer dentro das empresas”.
Forminhas de sucessoApesar da decepção, ela não desistiu. A partir de um comentário de sua tia, Mirela passou a se interessar por forminhas de casamento. Após pesquisar na internet, ela aprendeu a confeccionar o produto e fundou, em 2009, a
Ma Sweet Cases.
Atualmente, a produção das forminhas é feita por ateliês - localizados no Mato Grosso, na Bahia, em São Paulo, em Santa Catarina e no Espírito Santo - com os quais a Ma Sweet Cases possui parceria. Cada ateliê produz uma linha diferente de forminhas, de acordo com os materiais que costuma trabalhar. O ateliê da Bahia, já que trabalha com materiais delicados, como a renda, produz a linha de forminhas românticas, por exemplo.

O processo dos pedidos funciona da seguinte forma: as clientes entram em contato com Mirela pessoalmente ou pelas
redes sociais e, uma vez que o pedido é formalizado, a empreendedora o passa adiante para o ateliê, que além da produção, é responsável em prover os materiais das forminhas. Com a encomenda pronta - Mirela costuma trabalhar com um prazo máximo de 45 dias -, o ateliê a manda para a casa da empreendedora, em Campinas, interior de São Paulo, e, junto com seus dois funcionários, ela verifica e organiza tudo para enviar o produto final para o cliente.

Em 2010, Mirela atendeu 63 clientes. Em 2014, mais de 1600. A expectativa é que esse número ultrapasse a casa dos 3 mil em 2015. A empreendedora recebe, por e-mails, mensagens no WhatsApp e no Facebook, uma média de cem pedidos de orçamento todos os dias. Além disso, ela também faz um atendimento personalizado para os clientes que quiserem ir até a sua casa conhecer os produtos pessoalmente.
Apesar do crescimento do negócio - o faturamento em 2014 foi de R$ 400 mil -, Mirela é modesta no que diz respeito à expansão da Ma Sweet Cases. “São números interessantes, mas ainda estou focada nos clientes. Não quero que o negócio cresça demais a ponto de eu não dar conta, quero manter a qualidade. Em vez de gastar com eventos e um showroom, quero investir no bem-estar dos clientes, nas embalagens, no estoque”, afirma Mirela.